Universidade do Minho
Curso de Sociologia - 1º ano
Proposta de solução do Teste formativo escrito de Organizações e Trabalho de 9 de Maio de 2007
1-Partindo da análise deste texto, podemos afirmar que Elton Mayo concordaria com a metáfora de Weick considerando os seres humanos mais como moscas do que como abelhas.
Anteriormente a Elton Mayo, Taylor dizia-nos que as organizações funcionavam como uma bagunça porque se dava demasiada autonomia ao operário e o contramestre assentava a sua direcção em lógicas de poder coercivo. Essa forma de produzir e de dirigir os operários era, segundo ele, irracional. Sugere uma racionalização em que os operários deveriam ser convencidos a serem mais metódicos nos seus movimentos evitando fazer "cera". Defendia que todos ganhavam em adoptarem uma forma de trabalho mais racional pois o aumento de produtividade daria origem a mais lucros e melhores salários. Neste sentido, segundo Frederic Taylor o ser humano assume-se como sendo, nesta metáfora, acima de tudo uma abelha, pois pode agir (ou deve) de uma forma mecanizada em função das necessidades da produção e apenas baseados na motivação económica (ganhar mais). No entanto, nesta última frase estamos a falar mais do taylorismo, da aplicação da teoria do Taylor e não do que ele escreveu. Na prática, e ao contrário de algumas boas intenções do autor, o taylorismo reduziu os operários a meros prolongamentos da máquina (eles não eram consultados) não se tendo em conta as suas capacidades intelectuais. Desta forma, havia uma concepção mecânica da organização: uma metáfora em que a organização seria como uma colmeia funcionando em função das máquinas. O operário, a parte humana, seria um prolongamento da máquina, da visão dos engenheiros do planeamento. Esta opção teve (e ainda tem, mais nos países do terceiro mundo: ver o que se passa na China) efeitos terríveis na saúde mental e física de mihões de seres humanos sendo cauda de muitas mortes e sofrimento físico e psíquico. Por isso, os sociólogos do trabalho e das organizações (e os sindicalistas) são muito críticos em relação ao taylorismo embora entendam as lógicas cínicas que levam os empresários a optar por essa lógica. O capitalismo teve, desde o seu início, uma lógica cruel. Contudo, tudo indica que esta forma de produzir começa a ser desadequada devido às mudanças globais na economia e nas características dos trabalhadores (passagem de uma economia baseada na energia para uma economia baseada na informação e nos serviços).
Contrariamente ao pressuposto defendido por Taylor e mais pelo Taylorismo, Elton Mayo realizou uma investigação sociológica sistemática na fábrica de Western Electric com o objectivo de determinar a relação entre a intensidade da iluminação (e outras condições físicas) e a produtividade dos operários. Inicialmente, o objectivo era confirmar as hipóteses do taylorismo. Pelo contrário, Elton Mayo e a sua equipa verificaram que a intensidade da luz ( e outros factores físicos e de carácter material - a remuneração, pausas, etc) não mudam radicalmente o nível de produtividade no essencial.
Esta conclusão pode aparecer muito simples para nós, estudantes e professores de sociologia que somos uns defensores da causa do social. Mas nem toda a gente pensa assim; em Portugal, a sociologia nas empresas ainda é vista como estranha por muitos empresários, infelizmente para eles. Mas temos de ver que estávamos nos anos 20 do século passado nos EUA em que dominava a lógica do lucro fácil, um capitalismo bruto e insensível. No fundo, o ambiente dos EUA era o que predominava e predomina entre as nossas PMEs ( e também entre muitas multinacionais gananciosas fruto da globalização neo-liberal) . Uma mentalidade economicista e assente no poder dos engenheiros. O que Mayo mostra, usando a investigação social científica é que o Taylorismo estava errado e, mais importante, que era uma forma de produzir IRRACIONAL e não produtiva. Ora, esta conclusão foi uma autêntica bomba e ainda o é para os economistas e engenheiros tradicionais e dogmáticos. Deste modo, Elton Mayo encara nesta experiência os seres humanos como sendo moscas, visto que são seres activos, têm inteligência, autonomia, não são prolongamentos mecânicos, são múltiplos, actuam na base dos sentimentos, da desobediência e da improvisação. Não são apenas motivados pelo dinheiro como se fossem abelhas estúpidas e autistas.
2- Segundo Crozier, as organizações são atravessadas por jogos de poder e esses jogos estão presentes na metáfora de Weick pois os seres humanos são complexos e múltiplos: seres de conhecimento e aprendizagem permanente como as moscas.
Neste sentido, Crozier afirma que TODOS os comportamentos organizacionais se assemelham essencialmente ao comportamento das moscas visto que o actor tem sempre margem de manobra (pode-se sempre decidir por si mesmo mesmo apenas no seu pensamento: nunca se é totalmente escravo do outro ou de um sistema, ou máquina ou grupo). Assim, Crozier afirma que o poder é relacional (não é uma coisa que se tem numa soma zero estilo combate de boxe: ou KO ou vencedor) e, como tal, os jogos de poder devem ser o essencial a estudar mas mais no que eles têm de virtual pois, na sociedade moderna, raramente resolvemos os nossos conflitos de poder ao "murro". Assim sendo, Croizier encara os actores sociais como eles próprios jogando jogos de poder tal como os outros primatas. Contudo, afirma que, para jogar tais jogos, é necessário conhecer as regras: o jogo, nos primatas humanos, é muito mais complexo devido ao uso da linguagem e de artefactos técnicos, do poder mágico das palavras - uma fonte paradoxal porque parece que ilumina mas também é fonte de conflito e de escuridão. Neste sentido, explica, a partir da escola de Palo Alto, que os jogos que os animais jogam, sobretudo os macacos, são muito semlehantes aos jogos dos seres humanos em grupo.
Assim, os seres humanos funcionam, no essencial, mais como as moscas, pois lutam sem chegar ao físico, num faz de conta que os prepara para a complexidade da sociedade moderna e do papel da comunicação de sinais que, sendo também corporais como nos macacos, são também de signos linguísticos e, por isso, muito mais complexos pois combinam.se constantemente com os outros sinais que emitimos a todo o momento (da face, olhos, do corpo, form de vestir etc.). Assim, os seres humanos não funcionam apenas de forma mecanicista como as abelhas. Contudo, como veremos em seguida com Sainsaulieu há também algo de abelha, de casmurro em nós. Há sempre algo de autista no nosso comportamento organizacional: mas trata-se de uma herança que nos vêm da nossa parte menos humana. Tem a ver com o facto de sermos animais de hábitos e de territórios (somos também mamíferos...)
3- A noção de cultura de Sainsaulieu pode ser usada, neste exemplo, na medida em que Sainsaulieu considera que a organização não é só constituída por jogos de poder. Assim sendo, para Sainsaulieu a organização é mais do que isso, é um espaço onde se passa imenso tempo e onde somos socializados (criamos hábitos de abelhas que nos tornam dogmáticos e casmurros mas também mais calmos e territorializados) mas de forma limitada. Criam-se então cidadãos integrados e mais calmos (mas um pouco casmurros como as abelhas) e com diferentes identidades dentro do espaço organizacional.
As organizações funcionam como agregados que moldam e condicionam os seres humanos no espaço organizacional. A metáfora usada por Karl Weick aplica-se neste exemplo na medida em que os seres Humanos não têm o mesmo código, não fazem parte da mesma organização. Nesta visão podemos afirmar que dentro do ser Humano também há uma faceta da abelha na medida em que somos um pouco programados, casmurros.
Realizado por:
Fátima Emanuela Pinto da Silva
Aluna do Curso de Sociologia da Universidade do Minho
Número 49777
sábado, 12 de maio de 2007
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