domingo, 23 de maio de 2010

Uma entrevista interessante a Peter Kevin Spink em que se fala da escola sócio-técnica



"Leny – E a questão sociotécnica?
Peter – Quando eu cheguei aqui, eu comecei a me engajar com muitas questões de trabalho e empresas, porque foi um período de abertura, havia discussões sindicais, tinha possibilidades de mudança no ar, tinha um grau mínimo, muito pequeno, mas suficiente, de abertura para discutir questões empresariais. A saúde do trabalho foi um caminho possível e eu me engajei nesta briga porque pareceu que fazia sentido o fazer. A visão sociotécnica desenvolvida a partir dos estudos do Tavistock nas minas de carvão é o desmonte da idéia de que há uma maneira melhor de organizar o trabalho e que a organização do trabalho é determinada tecnologicamente; ou, simplificando mais ainda, é a negação da idéia de que a parte técnica do trabalho é neutra, independente e separada do social. Não, os dois andam juntos e se produzem conjuntamente. Claro que tem máquinas etc... mas essas máquinas são produzidas por pessoas e são “juntadas” por pessoas. E produtos são montados de acordo com certas lógicas que são feitas por pessoas – e isso é cheio de pressupostos sobre que tipo de posto de trabalho deve existir, sobre as competências das pessoas, sobre como elas devem ser supervisionadas ou como a autoridade deve ser exercida. Essa é um pouco a noção que está por trás do processo sociotécnico: não há uma melhor maneira para nada, simplesmente há opções e essas opções têm conseqüências; você tem que discutir e debater, pesar as opções e dar valor – quer dizer, avaliar – as conseqüências.
É importante dizer que essa visão mais crítica sobre a organização do trabalho sempre foi marginal em todo e qualquer lugar. Ela foi um pouco mais aceita em sua versão mais simplificada – em termos de grupos de trabalho, células, núcleos etc. – do que foi em sua versão mais ampla – que é muito mais a preocupação com a democracia no local de trabalho. Bem, neste período de abertura inicial, tinha pessoas como vocês na área de saúde no trabalho, tinha uma nova geração de engenheiros se formando na Poli, em torno de Afonso Fleury, também preocupada com estas questões. Mas eu sempre estava consciente de que esse tipo de convívio democrático sobre a forma através da qual se organiza o trabalho seria extremamente difícil de se construir numa situação em que nem os sindicatos foram reconhecidos como representantes legítimos dos trabalhadores e onde os trabalhadores foram marginalizados em relação à discussão sobre organização e trabalho. O trabalho sociotécnico mexe significativamente com estas questões, porque é um trabalho de análise e discussão entre todas as partes implicadas e não um exercício gerencial de construir melhores caminhos.
Leny – Essa noção de escolha organizacional...
Peter – Também mexe. Porque ela não permite que se trate o mundo como um problema técnico ou abstrato, mas que se reconheça os valores, as opções culturais, as competências e saberes. Estas idéias, hoje, são bastante esquecidas, mas não penso que isso é simplesmente um problema para a teoria sociotécnica. Tenho a impressão que muitas das teorias que estavam sendo trabalhadas na década de 50 e 60 ficaram meio jogadas para o lado por serem consideradas velhas. É interessante refletir que para a história das idéias, 40 anos é absolutamente nada. Sem dúvida, as idéias foram formuladas na linguagem de suas épocas – senão elas não seriam formuladas –, mas podem ser reformuladas na linguagem de nossa época. Há muito a ser retrabalhado... "

Peter Kevin Spink, "Entrevista: Peter Kevin Spink", in Cadernos de Psicologia Social do Trabalho. v.3-4 São Paulo Dez. 2001, pp. 77-97 [citado 20 Março 2009], Disponível na World Wide Web: <http://pepsic.bvs-psi.org.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-37172001000100006&lng=pt&nrm=iso>.


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